segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Só o veneno que mata?

Andei pensando outro dia desses em uma fábula bem interessante. Meio dramática, bastante sem sentido para pessoas normais e em qualquer situação, engraçada. Sim, engraçado. Pois bem, vamos começar. É uma história sobre duas cobras. Uma delas uma jibóia, enorme, temida por vários animais e também pelos humanos. Venenosa, mas não *peçonhenta (toda cobra tem veneno, mas nem todas usam. Para as que não usam, existe essa nomenclatura). E bem perto dessa jibóia, vivia uma Coral, uma das mais venenosas e também temidas do mundo. A Jibóia, por ter seu tamanho muito superior ao da Coral, gostava sempre de estar sonhando alto e pensando em saciar sua fome com lanches imensos, afinal, ela podia matar qualquer animal que quisesse com toda sua força. Já a Coral, sempre estava com os pés no chão, imaginando qual seria o alimento da vez, apenas o suficiente para não morrer de fome. Assim passava-se o tempo, até que a Jibóia, curiosa, veio a perguntar para a Coral o por quê dela ter todo o poder de matar os animais e não usar isso. A Coral diss que não tinha motivos para isso, e que nem a Jibóia precisava, afinal, comia sempre mais do que o necessário. A Jibóia não gostou de ser chamada a atenção e encarou com agressividade a Coral. Dizendo que ela só dizia isso por ser inferior a ela. Em resposta, a Coral respondeu curtamente que era capaz de muito mais do que a Jibóia imaginava. Explosiva como sempre, a Jibóia sem pensar duas vezes avançou pra cima da Coral. Que por ser menor e mais rápida, soube se posicionar bem para escapar do estrangulamento. A Jibóia não estava ligando para a sua amiga, estava apenas vendo ali uma grande inimiga, que tentava medir forças com ela. A Coral buscava acalmar a amiga, que passara a ser adversária, mas nada adiantava. A Jibóia foi ficando cansada e abrindo espaço para a Coral mostrar do que era capaz. Não demorou muito e a Coral deu uma única picada na Jibóia. Ao sentir isso a Jibóia parou completamente e voltou pra realidade. Com olhar de arrependimento, fixou os olhos na Coral, que com raiva ficava a olhá-la. Já com dificuldades para respirar, a Jibóia tentou pedir desculpas à Coral, que não ligou e fez questão de dizer que só fez o que sua amiga estava merecendo. E que ainda mais, que não estava arrependida por conseguir provar ser superior. Gabando-se da vitória, enquanto olhava a morte de sua amiga, a Coral se destraiu com tamanha a felicidade de ter derrotado um adversário maior que ela, dizendo também que sempre soube ser mais forte. E que poderiam vir quantas Jibóias fossem, que ela derrotaria do mesmo jeito. Não foi bem o que a Jibóia pensou, quando viu a pequena Coral e toda a sua marra posicionada bem no meio de seu corpo, já parcialmente enroscado devido ao efeito do veneno. Gastando suas últimas forças, a Jibóia contraiu seu corpo, pressionando a Coral ao máximo, apenas deixando sua cabeça do lado de fora. O suficiente para ouvir suas últimas palavras: A vida é assim. A gente aprende até o último momento. Seja de forma positiva ou negativa. Obrigado por me ensinar a viver, aprender e, juntas, a morrer. Uma lágrima escorreu do olho da Coral. A mesmo tempo que uma escorreu do olho da Jibóia. Ali ficaram, paradas, pensando por uns instantes. Ali estavam, sem nada, juntas e sem vida.

Não achou graça? Nem eu. Mas acredito que isso seja uma comédia. Por que canso de ver pessoas rindo de situações como essa. Prometo pra vocês não só ler, mas entender, interpretar, imaginar e decifrar essa fábula. Quem sabe assim, um dia, consigo ver graça nisso tudo. Nesse mundo, passado, presente ou futuro.